Estudo internacional sugere que a flexibilidade das estratégias de dispersão é a chave para o sucesso da invasão da Califórnia por espécie de cogumelo europeu

30 abril, 2024≈ 4 mins de leitura

Durante os últimos 15 anos, uma equipa de cientistas distribuída por dois continentes (Europa e EUA), que incluiu a investigadora Susana C. Gonçalves do CFE amostrou o fungo Amanita phalloides para revelar que este cogumelo europeu se estabelece frequentemente a partir de esporos sexuais, mas que nas florestas da Califórnia, onde é invasor, os indivíduos podem viver pelo menos uma década e crescer até 10 m de diâmetro.

O novo estudo “Death caps (Amanita phalloides) frequently establish from sexual spores, but individuals can grow large and live for more than a decade in invaded forests”, coordenado por Anne Pringle da Universidade de Wisconsin-Madison, EUA, acaba de ser publicado num número especial da prestigiada revista New Phytologist dedicado à investigação das simbioses micorrízicas.

As invasões biológicas estão a remodelar a biodiversidade da Terra, mas as mudanças na distribuição de fungos não patogénicos continuam em grande parte por documentar, assim como os mecanismos que permitem as invasões. Embora há vários anos se saiba que o cogumelo ectomicorrízico Amanita phalloides é nativo da Europa e invasor na costa oeste da América do Norte, faltava informação sobre o seu modo de reprodução e a persistência de “genets” individuais, ou seja, indivíduos geneticamente distintos.

Também nunca se tinham comparado populações da área invadida na Califórnia com populações da área de distribuição nativa na Europa. Neste trabalho, através da amostragem em ambos os continentes e de análises de genética e genómica populacional em cogumelos mapeados, os investigadores testaram se a espécie se dispersa preferencialmente através do crescimento do micélio, ou a partir de esporos sexuais. A seguir, pela análise das mesmas populações ao longo do tempo, testaram se os genets são efémeros ou persistentes.

Os investigadores descobriram que a maioria dos genets de Amanita phalloides, tanto na Europa como na Califórnia, são pequenos e que a grande maioria dos indivíduos corresponde a um único cogumelo, sugerindo o estabelecimento frequente a partir de esporos sexuais. No entanto, na área onde é invasora, a espécie parece proteger as suas apostas: em dois locais de amostragem na Califórnia, 17 cogumelos amostrados em 2004, 2014 e 2015 representavam genets únicos e, num caso em particular, um indivíduo com quase 10 metros de largura. Os autores sugerem que “uma estratégia flexível de história de vida pode ser parte da razão para o sucesso da invasão na costa oeste dos EUA”.

“Este estudo elucida as estratégias empregue por este fungo para colonizar novas áreas competir com as espécies nativas, mas as implicações para o funcionamento dos ecossistemas não são claras”, nota Susana C. Gonçalves. “Os indivíduos maiores têm o potencial para estabelecer ligações entre várias árvores na floresta, numa rede de micélio comum. Mas mais estudos são precisos para caracterizar a natureza e implicações dessa interação nas suas áreas de distribuição, comparativamente”, reforça.

“Um aspeto prático que resulta dos resultados deste estudo é a conclusão de que a apanha de cogumelos não vai permitir o seu controlo porque os micélios persistentes continuarão a habitar o solo e a reproduzir-se!”, conclui a investigadora.

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