Investigador do CFE acredita ter encontrado um galeão de Vasco da Gama

03 abril, 2024≈ 4 mins de leitura

© Caesar Bita

Filipe Castro, arqueólogo naútico e investigador do grupo História, Territórios e Comunidades (HTC) do CFE acredita ter encontrado um galeão da terceira armada de Vasco da Gama, ao largo do Quénia.

A partir de 1518 Portugal começou a construir navios desenhados para a guerra, com autonomia para navegar ate aos oceanos Indico e Pacifico. Inspirado em tipologias mediterrânicas, este novo tipo de navios recebeu a designação de galeão e era provavelmente um navio de vela com três ou quatro mastros, montando artilharia que cobria os 360º do seu entorno e permitia uma defesa efetiva contra ataques de gales. Os galeões portugueses foram rapidamente adotados por outras nações e não pararam de evoluir durante o seculo XVI. Pose-se afirmar que mudaram a história da expansão europeia no mundo que então se abria à Europa.

Um desses galeões, S. Jorge, capitão D. Fernando de Monroy, perdeu-se em Malindi há exatamente 500 anos, em 1524, a caminho da India, na terceira armada de Vasco da Gama, e parece ser o navio que foi encontrado nas águas daquela cidade, no recife de Ngomeni, em 2003.

Em 2013, Caesar Bita, arqueólogo marítimo dos Museus do Kenya, promoveu uma campanha arqueológica no sítio, escavando uma trincheira que estabeleceu a origem portuguesa deste navio e convidou Filipe Castro. Desta colaboração nasceu o presente convite a uma equipa de arqueólogos/as do Laboratório de Arqueologia Marítima do HTC, coordenada por Caesar Bita e Filipe Castro, com José Virgílio Pissarra, Tânia Casimiro, Alexandre Monteiro e Paulo Costa, que está a investigar este sítio arqueológico e a avaliar o seu potencial para o estudo da história da construção naval em Portugal e no mundo.

Jazendo a pouca profundidade na costa do Quénia, este navio está protegido pela população local, que faz parte deste projeto de arqueologia comunitária e que tencionamos treinar para que possam acompanhar os achados e participar no seu registo e análise.

Embora a identificação deste navio não seja definitiva, cremos que o navio de Ngomeni pode ser um de dois navios portugueses perdidos nas aguas de Malindi, o galeão S. Jorge (1524) e a nau Nossa Senhora da Graça (1544). Embora haja uma lista com oito naufrágios portugueses em águas de Malindi, as datações provisórias dos artefactos apontam para um naufrágio na viagem de ida para a India e para uma data do naufrágio no primeiro quartel do século XVI.

Além do evidente interesse científico associado aos restos de qualquer navio do século XVI, este naufrágio pode ter ainda um importante valor histórico e simbólico como testemunho físico da presença da terceira armada de Vasco da Gama nas águas do Quénia.

Pode assistir à reportagem da RTP sobre esta descoberta aqui.

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